Mas o dia insiste em nascer!

*questão pra faculdade reproduzida aqui nesse humilde blog ( sem revisão e depois de uma garrafa de Merlot chileno pra inspirar)
O século XX sem sombra de dúvida foi o século das rupturas, das negações. Nunca na história da humanidade tantas coisas deixaram de fazer sentido, nunca tantos dogmas caíram por terra, nunca tantas certezas simplesmente desmancharam no ar. Picasso, Matisse e outros já davam a entender na primeira década do século passado que as coisas nunca mais seriam as mesmas. A ruptura era sem volta. Daí passando pelo futurismo, pelo modernismo brasileiro, pelo surrealismo da década de 20, pelo expressionismo alemão, por James Joyce, por Andre Breton, por Henry Miller e seus Trópicos, por Salvador Dali, por Luis Buñuel, pelo jazz norte-americano tentando quebrar barreiras raciais naquele país, por Vladimir Nabokov e seu controverso Lolita, e por tantos artistas e movimentos que simplesmente abdicavam da tradição e queriam começar tudo do absolutamente novo, escarrando no pré-estabelecido, no dito classicamente correto. Uma tradição de ruptura se estabelecia e parecia não ter volta.
Esse movimento foi exacerbado na década de 60. Uma contracultura tomou conta do mundo e não somente a arte tradicional era questionada. Os costumes, o modo de viv

er propagado como o correto durante séculos era motivo de protestos, passeatas e manifestos. A sociedade mudava rapidamente. Vivíamos a plena modernidade. Godard questionava em seus filmes o relativamente novo cinema, que mesmo tendo menos de um século repetia as fórmulas do romance do século XIX. Roy Liechenstein e Andy Warhol explicitavam uma sociedade hipócrita ocidental que consumia pelo simples motivo de consumir. O movimento beat de Allen Ginsberg, Jack Kerouac e William Burroughs celebrava a não-conformidade e inflamavam jovens de todo mundo a questionar. Simplesmente questionar.
É esses anos 60 foram realmente representativos dessa época impressionante que foram os primeiros 60 ou 70 anos do século XX. Mulheres, negros, jovens, todos imaginavam um futuro melhor, mais justo e feliz. A esperança era a palavra da moda e tudo era possível num mundo onde Che Guevara e Fidel Castro faziam a revolução numa ilha há poucos quilômetros da grande potência mundial e onde pobres guerrilheiros do Vietnã humilhavam cada vez mais os prepotentes ocidentais donos do mundo. Tudo fazia sentido, a revolução final estava próxima, a vitória era iminente. Mas ela não aconteceu.
O que fez a necessidade de mudança deixar de ser o mais importante, o vital, foge a uma análise menos posta em perspectiva. Octávio Paz tenta investigar essa troca de paradigmas em seu artigo no Jornal do Brasil no qual comenta sobre a crise da vanguarda, sobre o declínio da estética da mudança. Surge uma nova época que adora a repetição de antigos rituais, talvez numa roupagem nova, mas que claramente paga tributo ao passado. O que teria levado a isso?
A negação de todas as coisas pelo moderno levou a uma crise de referências. Nos fez bem desvencilharmos de dogmas preconceituosos e tradicionais, mas dessa negação surgiu um vácuo. O que surgiria dali? A revolução não aconteceu, a pobreza manteve-se e a utopia era mera lembrança quando pós-crise econômica de 1973 as coisas mudaram com a posterior chegada de regimes ainda mais duros socialmente como Reagan nos EUA e Thatcher na Inglaterra. Não havia nada para nos segurarmos e precisávamos achar algo sólido para nos apoiarmos. Escolhemos o que seria mais óbvio. Ressignificando o passado e pegando as referências anteriores e transformando para uma nova era. A cultura da ruptura esvaziava-se de se

ntido.
Muitos chamaram essa nova forma de pensar e valorizar o mundo de pós-modernidade. Otávio Paz critica essa denominação, mas para ele é claro o fim do culto a mudança, a necessária ruptura. E observando hoje uma música de destaque da, possivelmente, banda brasileira mais influente desse século percebemos que Paz acertou na sua leitura mesmo ainda em plena década de transição como foram os anos 80.
Marcelo Camelo dos Los Hermanos em sua "Todo Carnaval tem seu Fim" canta a dúvida da necessidade de mudar. "Pra que mudar?" exaspera Camelo no fim da canção. Podemos antes de avaliar a música em si comentar alguns fatos sobre o Los Hermanos. Começando com uma banda pela qual todos imaginavam ser de um sucesso só, os Los Hermanos praticamente se reinventaram em seu segundo álbum, exatamente incluindo referências inusitadas para uma banda brasileira dita de rock. Aplicando influências do samba criaram dúvidas de qual caminho traçariam, mas como Otávio Paz bem citava a tradição de nossa época não é a ruptura, mas sim a releitura e a reverência. E os Los Hermanos trouxeram o samba de novo à tona como talvez nenhum artista brasileiro fazia em muitos tempo. E o samba, música que ficou confinada a guetos durante pelo menos vinte anos, voltou a ser adorado com fervor por boa parte da juventude. Bastante coisa pra uma banda que um dia foi condenada por muitos a ser lembrada somente por "Anna Julia".
Voltando a "Todo Carnaval...". É uma música claramente pós-moderna, ultramoderna, do tempo de agora, ou de qualquer termo que queiram usar. Uma canção que admite a

tradição ("toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado"), que vangloria o uso das referências e não renega o passado ("toda bossa é nova e você não liga se é usada) e quem sem dúvida admite a existência de um tempo circular que não necessariamente progride em direção ao bem maior. Uma declaração de amor ao presente é cantada no refrão: "Deixa eu brincar de ser feliz". Não obstante, o uso do verbo brincar é sintomático. O letrista não tem certezas, busca respostas, questiona ao mesmo tempo que vangloria o passado, e mesmo assim admite suas incertezas e percebe "que o dia insiste em nascer" independentemente de qualquer dúvida ou questionamento.
E com isso dito, vemos muitas proximidades do propagado por Otávio Paz. "O agora foi sempre o tempo dos poetas" diz Paz e é isso que talvez tenha saído do domínio dos modernos quando colocavam o futuro em posição de quase dominância completa.
O que virá depois daqui? "Os homens jamais souberam do nome do tempo em que viveram" diz Otavio Paz. Tenhamos certeza que ainda mais difícil é prever o que vem a seguir ao presente. Entretanto sem forçar muito percebe-se que por alguma razão novos tempos parecem estar próximos. O pós-moderno (ou, repetindo para agradar Paz, qualquer que seja a nomenclatura para esses) trouxe de novo o presente para a perspectiva necessária, matou a utopia, mas talvez exagerou-se de nostalgia. Algo novo vai surgir. Nem que seja necessário romper novamente com o pré-estabelecido.
Mais um dia normal no Rio de Janeiro
Post roubado do Noblat: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/
A ANA BLOGA

Ana Cañas é uma artista promissora. Muita gente já sabe disso e esperamos ansiosamente seu segundo disco.
O primeiro disco é cru, com algumas músicas bastante interessantes, mas a moça se supera no palco, onde a apresentação ao vivo fica bem a frente do disco propriamente dito. Assistir a um show da Ana é pura alegria.
Muito disso dá-se em conta de ser uma artista ainda descobrindo caminhos, mas boa parte também tem por razão a dose cavalar de porra louquice que a Ana transmite no palco.
Dêem uma sacada e confiram que ela não é assim porra-louca só quando tá bêbada no palco (sempre), mas também escrevendo pro blog pessoal dela, que é engraçado PARA CARALHO:
E ah, Ana descobriu a Esperanza Spalding no TIM FESTIVAL e se amarrou absurdamente...! ISSO PODE SER BEEEEEEEEEM RELEVANTE!
http://www.anacanas.com/blog/blog.aspx
02:00 - OBAMA ELECTED
MASSACRE
PORRRRRRRRRRRRRRRRAAAAAAAAAAAAA
A FUCKING NEW WORLD
SEM PALAVRAS
HOLOGRAMAS rolando agora na CNN
Will.I.AM acabou de aparecer na CNN no formato de um holograma...Star Wars total.
Novos tempos.
Update: Vitória absuuuuuuuuuuurda de Obama em estados vitais como Colorado!
PORRRRRRRRRRRAAAAAAAAAAAa
Qualquer próximo post nas próximas 12 horas será com fator alcóolico exarcebado
Itau-Unibanco
Um desabafo final por hoje.
Só espero que o senhor Setubal não me acabe com o ARTPLEX.
Só faltava essa.