Ivan Clavery
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
  Quem te viu, quem te vê
Está chegando o dia mais importante para o planeta pelo menos nesse curto século. Muito já foi comentado e continuará sendo após o resultado das eleições sobre a possibilidade de um negro atingir o posto mais alto do mundo. Mas não custa por algumas coisas a mais em perspectiva.

O processo histórico racial nos EUA é muito mais complexo do que parece. Era simplesmente inconcebível para qualquer pessoa minimamente escolarizada nos anos 50 imaginar um presidente negro americano em tão pouco tempo. Pra isso basta avaliar as atividades culturais que mais caracterizam os EUA. E um historiador a pouco tempo comentou que daqui há 2000 anos os EUA serão lembrados apenas por três coisas: A Constituição, o baseball e o jazz. Parece absurdo, mas existe algo de verdade nisso.

O jazz é a principal contribuição artística norte-americana em todos os tempos. Isso é inegável. O ritmo originado em New Orleans é uma mistura de influências africanas, latinas, de cantos religiosos , do blues do sul dos EUA e de mais muitas outras tendências da cosmpolita New Orleans do final do século XIX. Apesar de todas essas influências quem inventou e desenvolveu o jazz foram mesmo os paupérrimos negros daquela cidade.

O processo histórico do desenvolvimento do jazz é longo, complexo e não cabe aqui. Mas basta dizer que a primeira gravação em disco de uma canção de jazz foi feita em 1917. Por brancos. O preconceito foi explícito durante toda a Era do Jazz (década de 20) e era do swing (principalmente década de 30) e por muito mais tempo no mundo do Jazz. Louis Armstrong e Duke Ellington se apresentavam nos hotéis mais luxuosos dos EUA, mas não podiam se hospedar lá por causa da cor. E mesmo assim é ponto concordado por todos os especialistas que o jazz foi vital na lenta mas progressiva perda de preconceitos na sociedade americana. Os americanos viram um negro espetacular como Louis Armstrong mudando COMPLETAMENTE o modo de tocar um instrumento com solos quebradores de paradigmas e ainda da forma de cantar tradicional, e com isso influenciando a música ocidental de forma SEM PARALELO em toda a história da música contemporânea.

Sem sombras de dúvida Louis Armstrong foi um pioneiro. Como Barack.

Outro pioneiro foi Jackie Robinson. Pra quem não sabe Jackie Robinson em 1947 foi o primeiro negro a jogar o passatempo preferido dos norte-americanos: o baseball. A importância do baseball pode não ser muito compreendida por nós, mas sua história é intrínseca a história do século XX norte-americano. A liga de baseball na primeira metade do século era MUITO mais organizada e valorizada do que qualquer liga do mundo. Uma liga sólida já existia em 1901... E por 46 anos o esporte foi completamente jogado sem a presença de negros.

Jackie Robinson foi um pioneiro. Como Hussein.

A distância perspectiva de um presidente negro pode ser posta em perspectiva por um livro de um brasileiro famoso e racista. Nos anos 1920 Monteiro Lobato escreveu a ficção “O Presidente Negro”. Comentar o racista e ridículo livro de Monteiro Lobato não vem ao caso, mas basta dizer que o livro profetizava o primeiro presidente negro americano no século XXIII numa sociedade americana ainda dividida raivosamente por raças.

Mas o incrível na história de Obama é muito mais do que o simples fato de ser negro. Ele é sem sombras de dúvida o político mais impressionante que eu já vi. O discurso de Obama em março em Philadelfia, pouco depois de alegações de que estaria envolvido com religiosos extremistas é das coisas mais fenomenais que já ouvi em termos de potência de retórica. Sócrates ficaria boquiaberto. Além disso, suas propostas para saúde, distribuição de renda e imigração são no mínimo surpreendentemente progressistas mesmo para os democratas. Enfim, o dia de amanhã tem tudo pra ser um marco não somente na questão racial e de integração do país mais importante do mundo, mas tudo para termos o primeiro marco de uma ideologia menos tenebrosa se comparada com a qual nos últimos oito anos quase destruiu as esperanças de um século XXI melhor que o anterior. Que a luz esteja nos eleitores dos estados chaves americanos e que tenhamos um novo modelo de sociedade para um país que, querendo ou não, é o país chave dó mundo ocidental.


Que o dia raie mais belo na quarta. Com Obama.
 
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